A primeira organização de juventude partidária pós redemocratização no Brasil completa trinta e cinco anos.
A Juventude Socialista do PDT completou, neste 15 de fevereiro de 2016, sua maioridade. São 35 anos dedicados às lutas mais profícuas do nosso povo. Três décadas e meia de participação na História do Brasil Republicano, participando das páginas mais decisivas da história da nossa nação; em alguns momentos, marcando posições que influenciariam o Partido Democrático Trabalhista em seus discursos, atuações e em seus posicionamentos junto ao povo brasileiro. Em particular, à juventude brasileira.
Herdeira de organizações juvenis do antigo PTB – como Ala Moça e Mocidade Trabalhista – a Juventude Socialista, carinhosamente chamada de JS, nasceu em 1981, e foi batizada de Juventude Trabalhista. Sua infância foi marcada pela posição na defesa do legado trabalhista, mas evocando para si a visão de que o trabalhismo era o caminho brasileiro para o socialismo.
E se o PDT quisesse se firmar, em longo prazo, como partido participativo, com quadros identificados com as causas do trabalhismo, a Juventude Trabalhista se constituía como o “PDT de futuro”. Coube à JS tornar sempre presente estes ideais plantados por Getúlio Vargas, na Revolução de 30.
A JS nasceu junto com a legenda trabalhista. Com a perda da sigla do PTB – através de manobra de cúpula da moribunda ditadura, para não permitir que o Partido Trabalhista Brasileiro ficasse com os autênticos trabalhistas –, Leonel Brizola e seus leais companheiros fundaram o PDT, em 26 de maio de 1980.
Na tarefa árdua da reconstrução do Trabalhismo com a nova sigla, sob uma legislação eleitoral restritiva para formação partidária, os jovens trabalhistas/socialistas deram grande contribuição na formação e consolidação do PDT: um partido de esquerda com abrangência e capilaridade nacional.
Este grupamento juvenil tornou-se, oficialmente, o primeiro movimento de cooperação partidária do PDT. No bairro de Quintino Bocaiúva – típico subúrbio carioca –, 123 delegados, oriundos de dez estados brasileiros, investiram na construção de uma organização que, tempos depois, daria solidez a muitas das posições abraçadas pelo PDT. Aliás, em pleno verão de fevereiro!
No Colégio João Lyra Filho, pertencente ao quadro trabalhista Arildo Teles (eleito deputado federal, em 1982), este grupo juvenil debateu, nos dias 14 e 15 de fevereiro de 1981, quais as políticas que os jovens trabalhistas defenderiam junto ao Partido e ao conjunto da sociedade. O “Encontro de Quintino” pautaria temas associados à conjuntura política nacional – eram tempos de redemocratização – e também à internacional, com temas de fundo terceiro-mundistas.
Quis o destino que a JS – nascida Juventude Trabalhista – escolhesse um quadro verdadeiramente de esquerda para ser seu primeiro presidente, no renascer, depois que o Ato Institucional Número 2, em dia 27 de outubro de 1965, extinguiu os partidos políticos: um jovem impetuoso de esquerda, progressista e que trazia no seu DNA as lutas do seu pai.
Era ele, Anacleto Julião, filho do ex-deputado federal socialista e líder das Ligas Camponesas Francisco Julião. Portanto, a Juventude Socialista já nasceu com a marca da luta.
De longe, no visionarismo dos jovens militantes, já havia o entendimento de que a Juventude Trabalhista fosse uma organização de esquerda, nacionalista, anti-imperialista e defensora dos Direitos Humanos, em tempos do desgaste e do esvaziamento de um já combalido regime ditatorial.
E entre jovens de orientação trabalhista, comunista e socialista, paulatinamente se formava a identidade da Juventude Trabalhista. Jovens que acompanharam Luís Carlos Prestes na saída do PCB, com a “Carta aos comunistas”, em março de 1980, contribuíram decisivamente para a identidade da Juventude Socialista.
Ocorreu uma simbiose de ideais – uma espécie de retorno às lutas que trabalhistas e comunistas construíram juntos, no decorrer da segunda metade da década de 1950 e na primeira metade da de 1960: talvez o principal motivo do golpe civil-militar de 1964.
Comprovando que a luta dos que antecederam (muitos deles conheceram o revés: tortura, estupro, morte, exílio) não foi em vão, unidos, somariam forças, na construção de uma agenda à esquerda para a Juventude.
Em 1983, a ‘Juventude Trabalhista’ se transformou na ‘Juventude Trabalhista e Socialista’, em seu II Congresso Nacional – que coincidiu com a Carta de Mendes, que reforçava o caráter socialista do PDT. Ela se tornou ‘Juventude Socialista’ no III Congresso Nacional, ocorrido entre os dias 1 e 3 de fevereiro de 1985, na cidade de Niterói, no Rio de Janeiro.
Eram tempos em que a JS se engajava nas “Diretas, Já” e tinha uma forte presença na União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), tornando-se a terceira maior força política da entidade.
A juventude pedetista – leal aos princípios trabalhistas, garantidos por Leonel Brizola –, recusou-se o alinhamento ao PCB, em 1985, por não compactuar a tese do “Pacto Social” com o governo liberal-conservador de José Sarney.
Embora com diretores na UNE, já em 1983( de grupos de jovens trabalhistas que não representavam a JS), a Juventude Pedetista só passaria a atuar oficialmente nesta entidade a partir de 1991, quando elegeu seu primeiro diretor oficialmente. A partir daí outros quadros de valor estariam presentes na UNE, pautando as agendas trabalhistas junto aos milhões de estudantes brasileiros.
Enquanto a majoritária presença de jovens apoiava apenas o ‘Fora Collor’ – capitaneado pelo apoio institucional das Organizações Globo –, nós, da Juventude Socialista, ainda que minoritários naquela conjuntura, defendemos punição a todos os envolvidos em atos de corrupção, incluindo figuras poderosas da época, como Orestes Qüércia, Antonio Carlos Magalhães e Roberto Marinho.
A Juventude Socialista, na contramão da aventura de um parlamentarismo roto – diante da fragilidade representativa e até ideológica do Congresso Nacional –defendeu, de forma intransigente e militante, o presidencialismo, a partir do respeito à soberania popular e à democracia plena.
Já bastava a falida experiência parlamentarista entre 1961 e 1963, como um verdadeiro golpe branco para tentar castrar e inviabilizar o mandato presidencial de Jango. E os jovens socialistas do PDT, tendo consigo a história brasileira e a experiência da tradição política trabalhista, foram às ruas e organizaram comitês contra o parlamentarismo, na recém-nascida Nova República.
A mesma Juventude Socialista, contrária à agenda neoliberal de Fernando Henrique Cardoso, participou de protestos contra a venda do patrimônio nacional e sucateamento das universidades públicas. A JS estaria integrada na campanha ‘Renuncie, FHC’, diante da dilapidação do Estado Brasileiro, além de leis lesivas ao interesse nacional, como a Lei 9478/97, quebrando o monopólio estatal do Petróleo, exercido pela Petrobras; e outras ações que preconizavam a retirada de direitos sociais históricos do povo brasileiro.
A JS esteve, como vanguarda de luta do PDT, nas agendas nacionais e defendeu os interesses populares da juventude brasileira, ao longo de seus 35 anos.
Esta organização foi o celeiro de lideranças que, inclusive, participaram ativamente da História do Brasil. Herdando as melhores tradições da Ala Moça e da Mocidade Trabalhista de Leonel Brizola, Sereno Chaise, Fernando Ferrari, Nei Ortiz Borges, Danilo Groff, Herbert de Souza (Betinho), Vânia Banbirra, Theotônio dos Santos, Vinícius Caldeira Brant e Pedro Simon.
A Juventude Socialista gestou, em seus quadros, gente do porte de Anacleto Julião, André Figueiredo, André Menegotto, Anísio Khader, Brizola Neto, Carlos Brum, Carlos De Ré, Cláudia Grabois, Giles Azevedo, Hélio Rabelo, Henrique Matthiesen, Izaura Gazen, João Vicente Goulart, Leonardo Zumpichiatti, Luiz Klippert, Marcus Neves, Milton Zuanazzi, Pompeo de Mattos, Vieira da Cunha, Wendel Pinheiro, Weverton Rocha, Tássia Bastos, Poliana Soalheiro, William Rodrigues, Joelma Santos, Luizinho Martins, Luiz Marcelo Camargo e tantos outros quadros forjados na luta e com contribuição na política e no campo da intelectualidade brasileira.
Entre conhecidos e anônimos, os milhares de militantes que atuaram e passaram pela Juventude Socialista não apenas construíram parte da história do próprio Partido Democrático Trabalhista, mas foram atores sociais e políticos que, doando seu tempo, idealismo e energias, colaboraram com os próprios avanços na História do Brasil e do povo brasileiro.
A estes, o nosso agradecimento incondicional. Este artigo se torna ínfimo diante da grandiosidade dos sonhos e da atuação viva e firme dos jovens que, em diversas gerações, fizeram da JS o que ela é hoje: a organização mais orgânica do PDT.
Queridos companheiros da Ala Moça e da Mocidade Trabalhista, acho que a Juventude Socialista, que completa sua maioridade, honrou – na infância e na juventude – todos os sonhos pelos quais vocês viveram; e concretizaram, até que as baionetas calaram, por duas décadas, o grito de liberdade do povo brasileiro; do povo latino-americano que somos.
Seus 35 anos de maturidade são a excelência de uma juventude combativa, que sonha por um Brasil mais justo, voltado para os jovens e para o povo brasileiro.
É pra lutar! É pra vencer! É Juventude Socialista PDT!
Esquerda Trabalhista! Aqui está presente a Juventude Socialista!
JS 35 anos – Grande Como Brasil!
*Autor: Everton Gomes é mestre em Ciência Política, Secretário Nacional de Organização do PDT e Presidente Nacional da Juventude Socialista.