terça-feira

Até quando ela volta?

O filme “ Que horas ela volta?” retrata a história da Jéssica, filha da empregada doméstica que prestou vestibular para uma universidade pública e passou. Uma das falas que marcam o filme é aquela ao qual a patroa diz “ é esse país esta mudando”. Realmente o Brasil está, muitas Jéssicas tem ocupado as cadeiras de um espaço que sempre foi negado para o pobre, o negro, o índio, o estudante da escola pública. Um dos fatos que tem proporcionado isso foi a unificação do vestibular, através do ENEM, e as políticas de ações afirmativas, através das cotas. Entretanto, se por um lado temos mais oportunidades do ingresso ao ensino superior, por outro a desigualdade ainda é algo existente. Estamos longe de uma verdadeira equidade, as melhores pontuações ainda estão com aqueles que podem pagar pelo melhor ensino ( salve as raras exceções). Apesar de haver ações afirmativas o número de estudantes de baixa renda e negros são pequenos, ainda que os mesmos representem a maior parte da população.

 Isso acontece por dois motivos, o primeiro é o próprio filtro do vestibular, reflexo de uma educação básica falha e de má qualidade, currículos escolares rasos, recursos pedagógicos insuficientes e condições de trabalho ruins dos profissionais da educação tem levado a escola pública à uma grande defasagem. O segundo motivo é a permanência na universidade. As cotas permitem uma oportunidade de ingresso, porém sozinhas não garantem a permanência desse estudante. O título “ Até quando ela volta?” é um trocadilho com o do filme mencionado na introdução, propositalmente, é para a reflexão de até quando uma “Jéssica” consegue ir e voltar todos os dias para a faculdade. Os cortes na educação atingem as universidades e consequentemente a assistência estudantil. Não há bolsas ou moradia para todos, o bandejão ainda é uma luta e um auxilio de R$ 400,00 reais ( é a média do valor da bolsa auxilio para estudantes de baixa renda)não conseguem assegurar que a “ Jéssica” permaneça até o fim do seu curso. Entre os diferentes motivos é possível citar o valor da passagem + material do curso, a necessidade de ajudar financeiramente em casa e o próprio currículo e exigências acadêmicas. Esse último tem afastado estudantes que trabalham e estudam para se manter, uma vez que o valor da bolsa é pequeno e por conta dos seus constantes atrasam.

 Ingressei na UFRJ em 2011, o ENEM e políticas afirmativas ainda eram novidades, hoje vejo o quanto a universidade mudou, mas ainda mantém um sua maioria um público de classe média e branco. Muitos colegas desistiram de continuar os estudos por não conseguirem conciliar com exigências da academia, outros por questões financeiras. Percebe-se que não apenas o acesso, mas a permanência precisa de uma atenção especial. É necessário aumentar o número de bolsas e moradia para os estudantes de baixa renda, além disso, é necessária uma discussão dos currículos acadêmicos. Grupos de apoio ao estudante precisam ser algo real e não apenas superficial. É essencial garantir o acesso e permanência, políticas públicas de assistência estudantil que contemple o novo público do ensino superior, e um investimento real na educação básica.


Natália Barbosa - Pedagoga UFRJ

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