quarta-feira

ARTIGO - UM PARTIDO EM REFORMAS



Os partidos políticos do mundo inteiro estão em profunda crise de identidade. Os atuais processos de desenvolvimento econômico e cultural e a multiplicação das tecnologias de comunicação contribuíram para que as sociedades se tornem cada dia mais complexas instáveis, exigentes, informadas. Isto impulsiona profundas mudanças que as organizações partidárias tradicionais, originadas em meados do século XVIII em solo inglês, até agora se mostraram incapazes de acompanhar e interpretar. Este cenário completamente novo - e porque não dizer também plural, em constante mutação -, é um desafio para o imaginário dos partidos que pretendam ocupar postos de liderança frente às sociedades contemporâneas.

Temáticas sobre direitos civis, meio-ambiente, mobilidade urbana, se juntam às tradicionais pautas da educação, saúde e emprego. A democracia como mecanismo de participação e inclusão é outro grande prisma que norteará o fortalecimento das organizações que conseguirem se abrir aos novos tempos.

Nosso PDT precisa entender tais desafios e avançar. Iniciativas neste sentido já vêm sendo consideradas e difundidas; todavia carecemos de muito mais esforço. A Universidade Aberta Leonel Brizola é neste contexto um grande diferencial, mostrando que nossa corrente de pensamento, o trabalhismo brasileiro, esta aberta e disposta a se reinventar.

Observe-se que não esta sendo dito que foram superados os problemas e desafios que deram causa às atuais organizações, dentre elas a nossa. Pelo contrário: os atuais problemas se somam aos que já existiam, mas agora também se apresentam com novas linguagens, formatos e meios de difusão. Isto torna todos os dias mais difícil empreender o fortalecimento de nosso partido caso não comecemos a caminhar imediatamente.

O momento é de promover a radicalização da democracia interna, sem medo ou receio. Promover a transparência será a maior ferramenta para tornar nosso projeto forte e grande. “Horizontalizar” decisões e a promoção do debate interno deve lastrear algumas das estratégias que teremos que aplicar no futuro. Então, como fazer para que nossa legitimidade histórica e representatividade permaneçam com o passar dos anos? Sem dúvidas, é uma grande missão.

Somos uma organização reformista e, deste modo, devemos continuar avançando. As reformas devem abrir nossos espaços de debate ao povo, buscar a contribuição popular, escutar a juventude, os trabalhadores do campo e da cidade, a classe média, o empresariado. Nosso partido deve ser uma ferramenta de transformação social e por isso não pode se fechar. Queremos crescer, somar, ser uma alternativa.

Devemos reformar a nós próprios. Qual é hoje nossa política de educação? É a do CIEP? Será que Darcy Ribeiro passados vinte anos da inauguração do “CIEP Zero” ainda apontaria para ele como modelo de educação do PDT? Ou será que àquele formidável pensador brasileiro, reformista por opção, inquieto por natureza talvez não estivesse dizendo sobre a necessidade de reinventar o CIEP? Será que ele do alto de sua lucidez e genialidade não estaria apontando novas tecnologias, métodos, ferramentas para promover um provável CIEP do século XXI? Estas são perguntas que devemos nos fazer.

E Leonel Brizola? Ele, que sempre foi um inovador no campo da gestão pública e política, viu no socialismo democrático uma forma de refundar o Trabalhismo tradicional. Que se empenhou nas lutas populares sempre defendendo o lado mais fraco. Será que hoje também não estaria falando em reformas?

O fim das eleições internas e o ano não eleitoral permite que façamos grandes debates. Precisamos nos reformar para garantir ao povo brasileiro uma maior inserção nos grandes projetos nacionais. E porque não dizer também nos projetos internacionais? O mundo globalizado é uma realidade e não devemos ficar restritos ao turno nacional. Precisamos conhecer mais e melhor nosso campo na esfera internacional. Quem são nossos parceiros estratégicos? O que discutimos na II Internacional ou COPPAL? Estamos preparados para enfrentar a Crise Mundial? Como fortalecer mecanismos humanitários de ordem global sem diminuir a soberania dos povos? Estes são alguns dos novos desafios que o mundo impõe e para os quais deveremos nos preparar.

Deixei por último o aspecto mais importante que tratarei neste breve artigo; a juventude. Esta deve ser a parcela mais importante no nosso projeto de desenvolvimento institucional. O “boom” geracional impõe a todas as organizações que se encontrem com os jovens. Nossos líderes maiores não são conhecidos de grande parte e quiçá da maioria da juventude hoje. Por isso, é urgente que empreendamos novos e vigorosos esforços no sentido de atrair os jovens para nossa legenda, formando, capacitando, inserindo-os nos processos de decisão, fazendo com que se sintam verdadeiramente acolhidos. Um partido que conhece seu passado, mas perdeu a condição de entender seu presente e escrever as linhas de seu futuro esta fadado ao desaparecimento. Não podemos deixar isso acontecer com o PDT.

Em algumas palestras, eu costumo brincar perguntando quem tem menos de 30 anos na plateia de pedetistas. E quase sempre o número de jovens é insignificante. Isso significa que não estamos sabendo lidar com esta faixa geracional, e/ou não estamos dispondo de esforços suficientes para tanto. Isso precisa mudar rápido.

Conclamo todos militantes, ativistas, simpatizantes e dirigentes a se somarem num grande esforço em prol da transformação. A nossa transformação e fortalecimento permitirão que se crie um real projeto alternativo para o povo brasileiro. Vamos às reformas!

Everton Gomes, Bacharel em Direito e Mestre em Ciência Política, Vice-Presidente da Juventude Socialista do PDT e Membro Titular do Diretório Nacional do PDT. Pesquisa sobre juventude, violência e os partidos políticos.

Um comentário:

Débora Amaral disse...
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